O que rege a minha vida

Se eu tivesse que resumir a uma palavra o sentimento que rege minha vida seria rejeição.
Deprimente, horrivel, pessimista essa minha declaração? Verdade.

Verdade também é que não posso escapar dessa constatação. Essa palavra surgiu nas primeiras sessões de terapia, que comecei a fazer em outubro de 2004. Passados quase três anos, não consigo encarar de frente essa realidade.

Tentemos entender. Segundo a psicanálise, a personalidade do ser humano é determinada pelas experiências que temos até os cinco anos de idade. É foda pensar nisso, que muitos de nossos problemas vêm de uma época que sequer lembramos com nitidez e na qual não tinhamos o conhecimento necessário para impedir que "estragos" fossem feitos. Pois bem, imaginemos uma criança, que não tem idéia da complexidade que cerca as relações humanas, em todas suas instâncias. Essa criança, por volta dos quatro anos, iniciará seu caminhos nas relações sociais e ingressará em uma escolinha ou creche, onde aprenderá a conviver com outras pessoas (crianças). Nesse momento, ela começará a ver diferenças entre si mesma e sua vida em relação a dos coleguinhas. E um belo dia percebe que a maioria delas possui, ao menos, duas figuras importantes em casa: a mamãe e o papai. Essa criança percebe que ela não tem uma dessas figuras e não entende...não tem as informações e a experiência necessárias para entender essa ausência. Então, em sua limitada consciência, imagina que se aquela pessoa não está ali, deve ter ido embora em razão de alguma coisa errada que ela fez. Pronto, fudeu a vida dessa pobre criança.

Quando jovens, não temos como relacionar certas informações. Uma criança não pode imaginar que os adultos se relacionam e que muitas vezes tais relacionamentos não dão certo; ela não sabe que existem pessoas com objetivos de vida diferentes; que muitos adultos têm caráter duvidoso; enfim, não sabem de nada. Passam os anos e viramos adolescentes. Estaremos, então, no meio do caminho e já teremos uma base maior de vivência e aprenderemos que coisas ruins acontecem para todos. E aquela criança de quem falamos no parágrafo acima entenderá que o pai ou a mãe não quis (não pode) ficar com a mãe ou com o pai e com ela e que não havia nada que ela (criança-jovem) pudesse fazer, pois cada um escolhe o rumo de sua vida. Só que neste momento, esse jovem assimilou durante anos que as pessoas o deixam se ele faz algo errado e procurará, inconscientemente, ter várias qualidades que manterão as pessoas que ele ama por perto: procurará ser legal, inteligente, amigo, divertido, amável, simpático, bonito, atraente, enfim, perfeito. E ninguém é perfeito, daí decorre mais um problema. Esse jovem não vai querer que se repita o que aconteceu lá no inicio de sua vida e evitará, a todo custo, que o rejeitem, procurando ser alguém perfeito. E isso é impossivel! E toda vez que ele perceber que falta alguma coisa (não é bonito, atraente, inteligente, magro, legal, amigo o suficiente) se desesperará, pensando que irão rejeitá-lo novamente. E o ciclo continuará assim, por muito tempo.

Esse desabafo é inédito em minha vida, não gosto de falar nesse assunto. Minhas amigas mais próximas nunca ouviram nada sobre isso e minha psicóloga quase me força a lembrar tais recordações. Achei que se escrevesse e colocasse pra fora talvez ficasse mais fácil lidar com essa merda. Claro que não vai, não existe mágica para fazer com que sentimentos ruins desapareçam.
Mas não custa tentar, não é?

Um comentário:

Anônimo disse...

O bom de crescer é que a gente pode começar a perceber essas coisas todas. Perceber já é bom, eu acho. A gente começa a mudar aos poucos. Decidimos ser "donas de si", e isso é bom. É o melhor na verdade. O bom de envelhecer, só pode ser isso, se a gente perceber, é claro. Se não, é só seguir o tédio da vida com os olhos fechados e nada mais. Só repetição eterna de dias iguais. Acho que é na gente que a vida muda o tempo todo. E acho que isso é bom...