Mais leituras

Pois bem, continuo na fase "leitura de livros geniais e deprimentes".
Depois de reler Memórias do Subsolo, passei a reler também Crime e Castigo e ontem, resolvi dar uma segunda chance ao romance de Albert Camus, O Estrangeiro. Há alguns anos , quando estava no cursinho, comecei a ter coragem de ler obras desafiadoras que pensava não ter capacidade para entender. Terei uma dívida eterna com o professor de literatura do mottola, que não se restringia a falar sobre as leituras obrigatórias da UFRGS e fazia, vez que outra, comparações de obras brasileiras (e constantes no edital do vestibular) com obras clássicas estrangeiras. Esse professor, inclusive, era aficcionado em literatura russa e sempre citava Dostoiévski. Enfim, criei coragem e fui ler autores como Tolstói, Goethe, Saramago e Gabriel Garcia Márquez.
Como nem tudo são flores, me dei mal ao tentar ler obras de James Joyce, Gogól e o já citado Camus. Quando iniciei O Estrangeiro, achei um saco, tedioso mesmo e parei logo no início. Porém, os anos se passaram e conversando com uma amiga na semana passada, fui persuadida a voltar à obra francesa e terei que agradecê-la, pois o livro é, na minha humilde opinião, sensacional. A prosa de Camus não é propriamente "fácil"; acredito que o termo "limpo" seria mais adequado para defini-la. De fato, a narração é tão direta e desprovida de floreios que chega a ser de certa forma sufocante e pode realmente levar ao tédio. Isso não deve impedir, entretanto, a continuidade na leitura, pois a complexidade de seu personagem principal é muito interessante.
Na mesma linha dos livros citados no início desse texto e em postagem anterior, O Estrangeiro trata de vários questionamentos dolorosos e incômodos e conta a história de um homem desligado do mundo, apático e indiferente a todos os acontecimentos (ou seja, um estrangeiro, numa acepção completamente nova da palavra), para quem a morte não representa senão o fim de uma existência completamente enfadonha. O questionamento da moral vigente está nitidamente presente, bem como as relações entre sociedade e religião, homem e Deus. O personagem Mersault parece negar toda a "normalidade" e os valores e comportamentos exigidos de pessoas "saudáveis e felizes". O que ele rejeita não é propriamente a vida mas sobretudo o absurdo da inexplicabilidade da nossa existência.
Enfim, eu sou muito limitada no que concerne à análises literárias, eu simplesmente gosto ou não de um livro. Fica a sugestão.

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