Eternal Sunshine of a Spotless Mind

Esses dias eu estava caminhando pela rua e de repente percebi que estava sorrindo. Assim, sozinha, na rua, rindo...Só eu sabia porquê. E isso que era uma coisa boba, mas boa. Aí tu te da conta que ta rindo sozinho e tenta se controlar pra não passar por louco. As vezes fica dificil, é mais forte do que nós.
O engraçado é que pensei isso num dia e no outro estava subindo a rua onde fica meu trabalho, indo pegar o ônibus pra ir à faculdade e passou por mim uma guria. Eu estava olhando pra baixo, mas não sei porque levantei a cabeça e dei de cara com ela sorrindo. Dava para ver que ela estava pensando em algo bom, um momento, um alguém especial, vai saber! Aí eu quem estava rind era eu, da situação, por ter percebido que no dia anterior, ela era eu! Hahaha, baita viagem minha.
Mais engraçado ainda é que parece que a felicidade (ou momentos felizes) tem uma intensidade tão forte que se te perguntam "tudo bem" num dia feliz, tu responde "tudo bem (as vezes rola até um tudo ótimo)". Por que? Porque felicidade não se esconde. O contrário, porém, não é verdadeiro. Se estamos tristes, deprimidos, preocupados, conseguimos muitas vezes esconder. Eu pelo menos consigo, porque penso que dependendo da situação, é mais fácil dizer "tudo indo" do que falar que não está tudo bem e alugar a pessoa (deixo bem claro que estou me referindo à pessoas próximas que te perguntam "tudo bem" não como uma espécie de cumprimento, porque sempre tem os sem noção que saem chorando as pitangas pra qualquer conhecido que encontram na rua).
Que coisa isso não? E que interessante como funciona a mente humana. Eu, que me contento com poucas coisas para ficar feliz, não me contenho e fico retardada. Coisas pequenas, que seriam insignificantes para outros, fazem meu dia valer a pena. A merda é ter a consciência (pessimista, diriam alguns) de que esses momentos inevitavelmente irão embora. Isso me faz lembrar de uma entrevista que li, há muitos anos, do neurologista Antonio Damasio, que disse, mais ou menos isso: que as pessoas almejam a felicidade como algo constante, mas que esquecem que a linha reta em um eletrocardiograma siginifica morte. Assim, a vida é uma sucessão de altos e baixos e aí reside sua beleza. Simples e complexo ao mesmo tempo. Sabemos que é apanhando da vida que a gente cresce e aprende, mas na mesma medida, é sendo feliz que vamos adiante, na esperança de que aproveitaremos mais os momentos alegres que virão depois das merdas.
A dualidade é inevitavel mesmo. Ontem estava assistindo de novo um dos meus filmes favoritos, Brilho Eterno de uma mente sem lembranças. Filme lindo, complexo, uma espécie de realismo fantástico à moda Gabriel Garcia Marquez. Em resumo, conta a história de um casal, protagonizados por Jim Carrey e Kate Winslet, que depois de terminarem o relacionamento, resolvem apagar as lembranças que tinham um do outro. Quem já não teve vontade de fazer isso? Apagar da memória todos os momentos tristes, humilhantes, dolorosos da vida? Imagine se desse pra fazer isso? Pois no filme, uma clínica fazia esse procedimento. E na hora parece a solução de tudo, começar do zero. Como se fosse possível...no caso do personagem Joel, no início estava ótimo, as últimas lembranças do fim do namoro, das brigas foram sendo apagadas.
O brabo foi quando começaram a sumir as lembranças boas, os momentos de felicidade, de intimidade, cumplicidade. Aí ele se desespera e tenta guardar a memória da Clementine em um outro lugar, em algum momento no qual ela não existia na sua vida. Lembro nitidamente da primeira lembrança que faz ele se arrepender do que estava fazendo: estavam os dois na cama, embaixo de um lençol, e ela conta como quando era criança se achava feia e que tinha uma boneca feia, para qual dizia "tu tem que ser bonita" como se ao dizer isso, a boneca e ela pudessem mudar. Era um momento lindo, de amor genuíno, e ele não queria perder aquilo. Mas perdeu. E na hora, quando estava no cinema, me emocionei mas não chorei (até porque odeio chorar em público). Só que na hora em que saí do cinema, lembrei da cena e comecei a chorar compulsivamente...Foi ridículo! Impossivel não se identificar com algo assim.
Enfim, o fato é que a gente querendo ou não, as coisas são assim. E por mais que doa, as merdas da vida tem que estar guardadas, nem que no fundo da nossa cabeça. Porque elas fazem parte de quem somos. Ter uma vida apenas com bons momentos, boas experiências, parece legal mas deve ser um saco. Só gostaria que o ruim e o bom fossem mais ou menos equivalentes, porque sofrer e ter pouca felicidade faz com que a vida pareça um poço sem fundo.
O bom é que agora, nesse momento, apesar do sono, eu estou bem. Mesmo que seja em razão de ilusões, conjecturas, pequenas coisas. Agora, pelo menos nesse instante, estou feliz.

2 comentários:

Unknown disse...

Pati, que bom que tu estava rindo na rua outro dia. Sabe que eu me percebo rindo do nada muito seguido. E as vezes não é nem um risinho bobo com o canto da boca, é gargalhada mesmo. Acho engraçado essas coisas tão espontâneas que acontecem com a gente, chorar e rir caminhando na rua ou sentado no ônibus, mas o importante é que a gente sente alguma coisa. Sentir felicidade e tristeza é intrínseco ao ser humano. Portanto, nãos e sinta envergonhada de chorar ao sair do filme ou rir enquanto desce a Santo Antônio. Ou mesmo para rir e chorar com os amigos depois de uma boa quantidade de alcoólicos!
Gostei do teu blog, vou frequentá-lo. Entra lá no meu simples www.merahistoria.blogspot.com
Prometo que vou melhorá-lo com o tempo.

Beijos

Eu mesmo disse...

Concordo com tudo que tu escreveu, é isso mesmo. E o filme é ótimo mesmo!!

O foda é que em alguns momento em que estou triste penso que eu trocaria esses momentos de tristeza por uma coisa mais, digamos, neutra, nem que para isso esses outros momentos de felicidade fossem embora. Não sei se isso seria bom, mas é o que eu penso às vezes.