Nós, humanos, somos animais muito curiosos. Convencidos por séculos de insistência filosófica, que afirmam que somos seres racionais, politicos, negamos veementemente nossa condição instintual. Grande ilusão...quando nos damos conta de que nossas vidas são comandadas por impulsos inconscientes, essa idéia cai por terra.
Não é de hoje que tenho essa visão pessimista de nossa raça. Há tempos penso nisso e hoje resolvi escrever sobre o assunto, inspirada por acontecimentos banais, mas que fazem pensar.
Ao longo de nossas vidas, somos obrigados a manter contato com outros da espécie, já que somos seres sociais. Assim, além do vínculo familiar (esse instituto que nos "diferencia" do resto dos animais), passamos a estabelecer contato com outras pessoas, na creche, no parquinho, no colégio, no clube, na praia, na faculdade, no trabalho, e assim por diante. Também mantemos relações sociais com pessoas desconhecidas, aquelas que passam por nós nas ruas, aquelas que nos atendem em bancos e lojas, etc. Pois bem, por alguma razão, as pessoas enquandradas no primeiro grupo (das relações mais íntimas, por assim dizer) acabam por fazer florescer, muitas vezes, uma relação de confiança, que nos faz acreditar na idéia de que podemos conhecer REALMENTE as pessoas a nossa volta.
Ai ai, doce ilusão. Se a gente não se conhece realmente, como conhecer os outros? Será que podemos acreditar que somos aquilo que aparentamos para o mundo exterior? Acho que não...Nós passamos para o mundo a imagem que construímos de nós mesmos, tentando alcançar essa figura idealizada que fazemos. E assim, não podemos acreditar que de fato conhecemos algem de verdade.
Sim, estou divagando muiiito hoje. É que recentemente, tive exemplos de como podemos nos enganar com os outros. Não falo isso com rancor, ou no sentido de que "ninguém presta, a gente não conhece ninguém de verdade", não é isso. Mas de fato a gente se surpreende quando tem uma imagem de alguém e é confrontando com lados que não conheciamos. A gente fala "fulano nunca faria isso, tenho certeza", "fulana é muito feliz, eu sei", "ciclano e beltrano são grandes amigos, vão morrer juntos", "posso contar contigo sempre", "fulaninha e beltraninho são tão felizes juntos"...e na real a gente ta falando de algo que não podemos saber com certeza! A gente pode, no máximo, conhecer o lado racional daqueles próximos a nós, mas o turbilhão que existe no inconsciente, lá no porão interno que existe em cada um, não tem como! É impossivel, no meu modo de ver.
Isso é tão perigoso...porque é tão fácil cair na armadilha do cinismo, da descrença no ser humano... Ainda mais porque não admitimos isso, fiéis que somos à idéia de que a racionalidade, a consciência manda em nossas vidas. Admitir o contrário faz com que fiquemos em um vazio: em que acreditar, onde se agarrar? Como viver sabendo que a gente pode se fuder (não no bom sentido) ao nos relacionarmos com outras pessoas, sejam amigos, colegas, familiares. É muito foda...
Já dizia Nietzsche que "Todo o homem dotado de espiríto filosófico tem mesmo o pressentimento de que sob esta realidade na qual vivemos e existimos, existe uma outra escondida, bastante diferente; nossa própria realidade é aparência".
Assim, a conclusão desse desvaneio pra lá de estúpido (estou um pouco de ressaca hoje, confesso...ontem foi o baile de aniversário de Porto Alegre e enfiei o pé na jaca com amigos na redenção) é a seguinte: não posso colocar a mão no fogo por mais nada nem ninguém nesta vida...nem por mim!
Um comentário:
Amiga, o ser humano é, antes de ser o que é, um produto das expecttivas lançadas sobre ele. Nem sempre as surpresas que as pessoas nos causam são propositais. Às vezes, são apenas divergências de expectativas. P.S: Te decepcionaste com algo ontem?
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