Ontem a noite, cheguei em casa as 22.30, puta da cara com um cidadão que resolveu se meter na conversa que eu estava tendo com uma amiga no ônibus, e resolvi entrar na internet. Passei, só por hábito, aqui no blog, pra ver se tinham deixado um comentário ou mais vírus (hoje deixaram, tive que excluir o comentário...bando de @#@%$¨%) e tive a agrádavel supresa de ver dois comentários deixados pelo Ailton, um amigo de Minas Gerais, na postagem com os diversos mapas do Brasil. E fiquei pensando no assunto...e estou pensando ainda (sim, eu estou no trabalho, deveria estar fazendo outras coisas, mas não tá dando).
Vejamos essa imagem:
Sejamos sinceros, a gente dá risada ao ver esse mapinha. Pensamos : "haha, olha só a ignorância desses americanos imperialistas que não sabem nada do resto do mundo". Aliás, americano é sempre um ótimo alvo para avacalhar, existem piadas variadas sobre o assunto e, o pior, histórias reais, como a do presidente Reagan que disse estar feliz por estar na capital do Brasil, Buenos Aires (quem dera fosse nossa capital). Mas se pararmos pra olhar o nosso próprio umbigo, veremos que a falta de conhecimento do "outro" está aqui mesmo.
Os mapas postados antes me fizeram rir, eu admito. E são engraçados porque são verdadeiros! Tenho uma amigona que foi morar no Rio há uns anos e quando ela volta pra cá, volta e meia larga alguma coisa do tipo "ah, eu tava lá e veio um paraíba falar comigo". Paraíba?? Sim, os cariocas tem realmente a mania de chamar as pessoas que vem do norte e nordeste de paraíba, seja o cara baiano, alagoano, cearense...pra eles é tudo paraíba. E pra nós, gaúchos, tudo acima do Rio é nordeste. É quase como se norte e centro-oeste não existisse a não ser nas aulas de geografia do colégio.
E apesar de engraçado, isso também é trágico, porque mostra o total desconhecimento que temos de nosso próprio país. Fazer brincadeiras como as feitas pelo pessoal do Casseta e Planeta até é legal, mas eu fico pensando se esses clichês que são construídos não acabam se tornando verdades, se não acabam sendo incorporados ao "senso comum". Eu infelizmente conheço pouco desse nosso país. Pra falar a verdade, até mês passado, só conhecia Florianópolis fora do RS. Agora conheço Curitiba também (que é uma cidade linda) mas vejam, tudo na região sul. Eu simplesmente não conheço nada do resto do país! E penso que assim como eu, grande parte das pessoas que se dão o luxo de falar de boca cheia dos problemas do "povo brasileiro", como se existisse uma coesão entre todos habitantes daqui, não conhecem mais do que as redondezas de sua cidade ou região. E como isso é problemático, fico pensando no que poderia ser feito, se as escolas deveriam proporcionar uma visão mais abrangente da diversidade do nosso país...se a gente deveria se dar conta disso e procurar trocar experiências, conhecer gente de fora do nosso mundinho...AI G-ZUZ!!! Sei lá, o que fazer???
Já falei sobre isso antes, mas uma das experiências mais gratificantes que ganhamos ao viajar é conhecer gente de fora do nosso "mundo". Ouvir sotaques diferentes, expressões curiosas, hábitos típicos de outras culturas, tudo isso faz com que nosso horizonte se expanda. E mais: mexe com a nossa vontade de conhecer mais gente, mais lugares, e isso faz com que não fiquemos parados, vendo a vida passar diante de nossos olhos. A nossa curiosidade é o que nos impede de permanecer em estado de inércia. Sim, verdade. Mas também é verdade que uma pequenissima parcela da sociedade tem condições de se dar ao luxo de viajar. Então essa opção acaba sendo muito limitada, infelizmente.
As vezes parece que quanto mais a gente pensa, mas complexas ficam as coisas nesse mundo. De fato, o ser humano parece fadado a sempre olhar aquele diferente de si como o "outro", passando esse a ser visto como "inimigo" (como podemos ver nas guerras e conflitos nacionais - o traficante, o pobre, o marginal, é sempre o outro aqui no nosso país). E isso impede que possamos enxergar além das diferenças. Como mudar isso?
Depois de ficar uma semana na Argentina, sem falar nada de espanhol pra não correr o risco de falar merda, não conseguia parar de pensar no absurdo de não ser obrigatório o ensino dessa língua-irmã nas escolas brasileiras. Estamos cercados de países hispânicos, somente nós, os Eua e Canadá não falamos esse idioma, mas é mais fácil encontrar escolas que ensinem inglês do que espanhol. É absolutamente incompreensível!
Enfim, talvez da próxima vez que assistirmos um video, ou ouvirmos uma piada sobre a estupidez dos americanos desconhecedores do resto do mundo, possamos lembrar que a gente, com sorte, sabe quais são os nomes dos 26 estados brasileiros, mas não sabe quase nada sobre a maioria deles.

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