Questionamentos relevantes e blogs.

Sinto falta da capacidade que creio ter tido, um dia no passado, de escrever bem sobre coisas relevantes. Quando leio os textos que escrevi neste espaço (quando o nome do blog era diferente, assim como seu layout), percebo que tinha não apenas um talento (se é que dá para chamar assim) mas uma vontade de expressar minhas opiniões acerca de diversos assuntos.

Com o passar do tempo, acabei utilizando este espaço somente para despejar lamúrias e divagações. A consequência disso é que acabei por perder a capacidade de escrever sobre assuntos abstratos. E agora percebo, mais do que nunca, como isso me faz falta.

Dentro dessse espírito de mudanças, tentarei analisar brevemente alguns fenômenos que a internet tem proporcionado a seus usuários. Vejamos essa coisa incrivelmente estranha chamada "blog".

Os blogs se difundiram de maneira exponencial nos últmos anos. Lembro que tive vontade de fazer este espaço depois de acompanhar projetos semelhantes de amigos meus. E no início, a lógica era mais ou menos essa, "seguir" as páginas de pessoas conhecidas, compartilhando opiniões, visões de mundo e aprendendo um pouco mais sobre elas. Com o desenvolver da coisa, se tornou normal seguir blogs de pessoas desconhecidas, muitas vezes por indicação, outras vezes por "achados" do nosso amigo Google, que mostra resultados variados quando digitamos qualquer assunto em sua pesquisa.

Foi nesse sentido que me deparei recentemente com alguns blogs interessantes e perturbadores. Uma amiga me mandou o link de um blog chamada "Cansada de ser boazinha". Comecei a ler as postagens e, vejam só, gostei! Afinal, o tema básico do dito espaço, em linhas gerais, é "mulheres solteiras e as implicações decorrentes deste estado" (lastimável, segundo alguns).

Li, li e continuei lendo. No final, embora tenha apreciado bastante os textos lá apresentados (até porque a autora do blog escreve muito bem), fiquei com uma sensação estranha, uma mistura de incômodo com desconforto com sei lá mais o quê. Isso decorre do fato de que as postagens da autora são todas no seguinte sentido: mulheres não devem ser valorizadas pelo fato de ter ou não um homem em suas vidas, pois a felicidade não está atrelada a isso. Ok, concordo. Mas no fim das contas, o blog inteiro é sobre isso!!! Mulheres, solteirice, solidão, amores fracassados, amores platônicos, dificuldades em relacionamentos, diferença entre homens e mulheres. Porra, será que não há mais na vida para se pensar do que no sexo oposto??

Imbuida nesse espírito, me dei por conta que tem tanta, mas TANTA coisa interessante nesse mundo para se escrever, para se ler, para se pensar, que esses questionamentos perderam o sentido. Ficar pensando em relacionamentos alheios, ou na falta deles, parece tão bobo. Economia, política, história, sociologia, direito, psicologia, filosofia, isso sim são coisas interessantes para gastar os neurônios! E mais: pensar sobre a própria humanidade, sobre a sociedade, sobre a psicologia de cada indivíduo, tudo parece tão mais interessante e produtivo do que pensar em termos maniqueístas: homem-mulher, casada-solteira, solidão-companhia.

Enfim...percebi, no frigir dos ovos, que o que me incomodou foi o meu próprio reflexo naquelas divagações. Perdi tanto tempo nos últimos meses pensando sobre isso, fazendo perguntas estúpidas do tipo "o que há de errado comigo e blá blá blá" e pra que? Ganhei algo além de incontáveis minutos nos quais deixei de fazer coisas legais, como ler um livro, assistir um filme, tomar uma ceva com amigos? Não, toda essa ladainha só me afastou de tudo aquilo que conquistei a duras penas: minha curiosidade, meu prazer em aprender, em interagir com pessoas interessantes, em descobrir coisas novas. Deixei de ler, deixei de ir ao cinema...para ficar me lamuriando.

O que fica de lição é o seguinte: é importante pensarmos sobre nós mesmos, refletirmos sobre nossas vidas, nossas escolhas, nossos objetivos, nossa capacidade de nos relacionarmos em qualquer nível. É igualmente importante, contudo, refletir sobre o "macro" disso tudo, ou seja, perceber que nossas vidas são apenas um grão de areia num universo gigante e que, observando dessa perspectiva, nada é tão grande quanto parece. Pensar sobre nós, enquanto indivíduos, dentro de uma sociedade tão falha, tão distante, fria e, até poderia dizer, má, é tão mais produtivo, não é? Como Carlo Ginzburg (principal historiador da corrente teórica conhecida como "micro-história") nos fez perceber através de Menocchio ("personagem" do maravilhoso "O queijo e os vermes"), a história "macro" é feita de indivíduos excepcionalmente comuns. Em outras palavras, o micro não existe sem o macro e vice e versa.

Fica aqui a dica, não apenas de leitura, mas de reflexão. Vamos pensar em nossas vidinhas ordinárias e mundanas, mas não deixando de lado questionamentos maiores. Penso que é essa a diferença das pessoas "normais", que estão presas ao seu dia a dia e a seus círculos ridicularmente pequenos de convivência, conveniência e normas, e os "anormais", que tentam desesperadamente pensar em todos os lados,analisar todas as perspectivas, procurando algo remotamente parecido com uma lógica racional nesta pobre e besta humanidade ou percebendo, infelzimente, que não há lógica alguma, tampouco justiça, e que isso, por si só, já basta para refletir.

E assim, termino por concordar com Oscar Wilde quando ele diz: "A normalidade é uma ilusão imbecil e estéril".

P.S: O título ficou "besta" em razão da minha incapacidade crônica de inventar bons títulos para qualquer coisa.

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